O treino musical para o desenvolvimento de competências auditivas

Oct. 2021

Os autores do artigo realizaram uma revisão de publicações onde se evidencia que a formação ou treino musical provoca mudanças ao longo do sistema auditivo, favorecendo competências auditivas para além do processamento musical.


Durante o aprendizado musical, os músicos aprendem a focar nas propriedades acústicas básicas, como tom, tempo e timbre. Os primeiros estudos com músicos investigaram e descreveram especificamente os benefícios do treino musical no processamento dos sons da música.


Estudos posteriores demonstraram que as mudanças funcionais e estruturais que ocorrem no sistema auditivo (e motor) não são específicas ao processamento da música, mas repercutem em outras competências, como habilidades de linguagem e fala, processamento das emoções e processamento auditivo. Música e linguagem compartilham a utilização da memória de trabalho, competências de atenção seletiva e o aprendizado de regras sintáticas e acústicas que conectam os sons. Músicos, comparados com não-músicos, apresentam benefícios no processamento da fala, refletidos em resultados de potenciais evocados corticais (PEAC) e respostas de seguimento de frequência (FFR), tanto na língua nativa como em línguas estrangeiras. Assim, foram descritas mudanças no processamento auditivo em níveis cortical e subcortical. Além disso, os benefícios correlacionam com a idade de início e os anos de prática musical.


Outras competências descritas no artigo, onde se reportaram melhorias na comparação entre músicos e não-músicos, incluem maior riqueza de vocabulário, maior habilidade de leitura, maior capacidade de perceção da fala em ambientes ruidosos e maior capacidade de memória de trabalho. Por fim, o artigo analisa as implicações do aprendizado musical na educação escolar (e, em especial, em alunos com dificuldades de aprendizagem), defendendo uma melhoria na qualidade e quantidade da formação musical nas escolas.


Em conclusão, o treino musical provoca mudanças biológicas funcionais e estruturais ao longo da vida, que não se limitam ao processamento da música, mas também impactam outros âmbitos, principalmente a linguagem e a fala. Estas mudanças resultam da melhoria na extração de regularidades do sinal acústico e na relação entre som e significado dos elementos que compõem o sinal auditivo.


Referência:


Kraus, N., Chandrasekaran, B. Music training for the development of auditory skills. Nat Rev Neurosci 11, 599–605 (2010). https://doi.org/10.1038/nrn2882