Em um estudo realizado pela doutora Sandra Nunes Alves Viaceli (artigo em preparação), trinta crianças com idades entre 8 e 11 anos com alterações de processamento auditivo (PA) foram avaliadas antes e depois de realizar três programas de intervenção: estimulação neuroauditiva SENA© (4 meninos, 6 meninas), Treinamento Auditivo Acusticamente Controlado (TAAC; 6 meninos, 4 meninas) e estimulação visomotora (VM; 5 meninos e 5 meninas). Foram realizadas provas audiométricas, potenciais evocados e provas de PA, incluindo o teste de detecção de lacunas no ruído (Gaps in Noise; GIN, Musiek et al., 2005), Logoaudiometria Pediátrica (Pediatric Speech Intelligibility; PSI, Pereira & Schochat, 2011), Teste Dicótico de Dígitos (TDD, Santos & Pereira, 1997) e Teste de Padrões de Duração (Duration Pattern Test; TPD, Musiek et al., 1990). Além disso, os pais responderam à escala de condutas auditivas (Scale of Auditory Behaviors; SAB, Simpson, 1981; Schow et al., 2007) antes e depois da intervenção.
As análises das provas audiométricas do grupo SENA© foram realizadas incluindo 9 das 10 crianças devido ao fato de que uma delas apresentava valores negativos (acima de 0 na avaliação inicial). Os resultados das provas audiométricas realizadas no início e no final da intervenção (Figura 1) mostram diferenças estatisticamente significativas na média em decibéis (dB) do limiar auditivo para o ouvido direito e esquerdo como resultado da intervenção. Concretamente, a média do limiar auditivo para ambos os ouvidos reduziu-se significativamente em comparação com as audiometrias iniciais. Quanto à Linealidade (desvio padrão dos valores da audiometria, em que o valor zero representaria um perfil audiométrico com linha plana), os resultados mostram uma redução da variabilidade entre as frequências estudadas na avaliação final em relação à avaliação inicial para ambos os ouvidos. O estudo da Simetria nas três fases da intervenção (simetria na curva audiométrica entre ambos os ouvidos) também mostra uma redução significativa das diferenças entre ambos os ouvidos na audiometria final em relação à audiometria anterior à estimulação neuroauditiva SENA©. Não foram encontradas diferenças significativas entre os valores iniciais e finais de Fusão (diferença em dB entre os dois ouvidos).
Figura 1. Gráficos de barras que mostram os valores médios para o grupo de crianças estudadas nas avaliações audiométricas inicial e final da intervenção de estimulação neuroauditiva SENA©, mostrando uma redução nos valores referentes ao limiar e linearidade para ambos os ouvidos, e simetria. (dB: decibéis; OD: ouvido direito; OI: ouvido esquerdo).
Na Figura 2 são apresentados os resultados dos valores grupais das 10 crianças que realizaram o SENA© como primeira intervenção, incluindo a latência (em milissegundos) do componente P300, a escala SAB e os testes de PAC (PSI, GIN, TDD e TPD). Os resultados mostram que, para todas as medidas estudadas, ocorre uma melhora significativa (aumento ou redução, dependendo da forma de pontuação de cada instrumento) entre os valores iniciais e os valores após a intervenção.
Figura 2. Resultados do potencial evocado P300, da escala SAB (escala de condutas auditivas) e dos testes de processamento auditivo antes e depois da intervenção neuroauditiva SENA©. (Gaps-In-Noise: teste de lacunas no ruído; OD: ouvido direito; OI: ouvido esquerdo; ms: milissegundos). Note-se que, para algumas medidas, a redução dos valores entre a avaliação inicial e final significa melhora (Latência P300, teste Gaps-In-Noise), enquanto nas demais provas um aumento da pontuação também reflete melhora (escala SAB, logoaudiometria infantil, teste dicótico de dígitos, teste de padrões de duração).
Em relação à comparação entre os grupos que realizaram SENA©, TAAC ou VM, as análises dos resultados obtidos na avaliação inicial e final mostram uma melhora estatisticamente maior no grupo de crianças que realizaram a neuroestimulação SENA© em comparação com os outros dois grupos (Figura 3) na latência do potencial P300 para o ouvido direito (para o ouvido esquerdo a melhora é maior, mas não alcança significância estatística), na latência da onda V (marginalmente significativo), na onda A, no teste GIN e na escala SAB.
Figura 3. Comparação entre grupos. Este gráfico mostra as melhorias obtidas entre os valores iniciais e finais para os grupos que realizaram SENA©, VM ou TAAC. No grupo que realizou a intervenção SENA©, observa-se uma maior melhoria em comparação com as intervenções VM e TAAC. Os valores da latência P300, latências das ondas V e A, e o teste GIN são apresentados em valor absoluto para facilitar a visualização (por se tratar de uma redução, os valores reais são negativos). No teste Gaps-in-Noise, o grupo TAAC também obteve uma melhoria estatisticamente maior em relação ao grupo VM. (SAB: escala de condutas auditivas; Gaps-In-Noise: teste de lacunas no ruído; OD: ouvido direito; OI: ouvido esquerdo; ms: milissegundos).
Os resultados do presente estudo mostram uma melhoria em medidas objetivas e subjetivas relacionadas à percepção e ao processamento auditivo por meio do sistema de estimulação neuroauditiva SENA©. Apesar do reduzido tamanho da amostra, esses resultados sustentam com dados objetivos e estatisticamente significativos as melhorias previamente observadas em pacientes tratados com SENA©. Futuros estudos com um maior tamanho de amostra ajudarão a corroborar os presentes resultados em relação aos benefícios do treinamento de neuroestimulação auditiva SENA©, comparando ainda sua efetividade com relação a outras intervenções terapêuticas.
Referências:
Musiek FE, Baran JA, Pinheiro ML. Duration Pattern recognition in normal subjects and patients with cerebral and cochlear lesions. Audiology 1990;29:304-313.
Musiek FE, Shinn JB, Jirsa R, Bamiou JA. GIN (Gaps in Noise) Test Performance in Subjects with confirmed Central Auditory Nervous System Involvement. Ear hear. 2005;26(6):608-18.
Pereira LD, Schochat E. Testes auditivos comportamentais para avaliação do processamento auditivo central. Barueri (SP): Pró-Fono; 2011.
Santos MFC, Pereira LD. Escuta com dígitos. In: Pereira LD, Schochat E, (org.). Processamento auditivo central: manual de avaliação. São Paulo: Lovise; 1997. p. 147-9.
Schow RL, Seikel JA, Brockett JE, Whitaker MM. Multiple Auditory Processing Assessment (MAPA) test manual 1.0 version. St. Louis, MO: Auditec; 2007.
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