Nesta publicação, apresentamos os resultados das provas de potenciais evocados auditivos de tronco (PEAT) de uma menina com uma patologia no ouvido médio que lhe causa hipoacusia bilateral.
Os PEAT são uma medida adequada e confiável da função auditiva subcortical. Consistem em 7 ondas positivas e negativas que ocorrem nos primeiros 10 ms desde o início do estímulo. Elas são denominadas por números romanos, sendo a onda I aquela que apresenta um pico entre 1,5-2 ms após o início do estímulo.
Cada onda reflete a ativação conjunta de populações neuronais em resposta à estimulação acústica:
Estudos sugerem que pessoas com dificuldades de aprendizagem geralmente apresentam latências normais nas ondas I, III e V em resposta a estímulos sonoros do tipo click (Song et al., 2006; Tait et al., 1983; Banai et al., 2005). As diferenças de latência e amplitude ocorrem em potenciais evocados auditivos que utilizam estímulos mais complexos, como a fala (tipicamente a sílaba /da/). Isso foi estudado em sujeitos com dislexia (Kouni et al., 2013) ou dificuldades de aprendizagem (Song, et al., 2008; Banai et al., 2005; Sanfins et al., 2017).
Entretanto, alterações nos PEAT em resposta a clicks também foram descritas em sujeitos com dislexia (Kouni et al., 2013) e em indivíduos com transtornos do espectro autista (Kamita et al., 2020). Especificamente, latências mais longas foram relatadas para as ondas I, III e V, bem como nas latências interpico (ou interonda) I-III, III-V e I-V em sujeitos disléxicos em comparação ao grupo controle; e latências mais prolongadas na onda I e na latência interpico III-V em indivíduos com autismo.
Resultados normais nos PEAT indicam a integridade da cóclea e da via auditiva ascendente. Contudo, não fornecem informações adicionais sobre a codificação de sinais mais complexos, como a fala (Song et al., 2006).
A seguir, apresentamos os dados de PEAT antes e depois da intervenção com SENA© em uma paciente.
Avaliação inicial: 04/06/2020
Resultados a 80 dB de intensidade:
*Valores de referência para >18 meses (Pelaquim et al., 2019):
Segunda avaliação: 29/01/2021
Resultados a 80 dB de intensidade:
Onda I: Podemos ver uma redução na latência em ambos os ouvidos. Também se observa um aumento na amplitude em ambos os ouvidos.
Onda III: No OD há um aumento de latência de 10 ms, enquanto no OI ocorre uma redução de 25 ms. Este fato resulta na sincronização de ambos os ouvidos.
Onda V: Observa-se uma redução na latência em ambos os ouvidos, situando-se dentro dos parâmetros de normalidade e com uma melhor sincronização. Assim como na Onda I, ocorre um aumento na amplitude desta onda.
Latências interpicos: Embora sejam observados valores aumentados nas latências interpicos I-III e I-V, podemos ver uma maior semelhança entre as latências de ambos os ouvidos. Isso também acontece na latência III-V, que, além disso, mostra uma redução das latências.
Referências:
Banai, K., Nicol, T., Zecker, S. G., & Kraus, N. (2005). Brainstem timing: implications for cortical processing and literacy. The Journal of neuroscience : the official journal of the Society for Neuroscience, 25(43), 9850–9857. https://doi.org/10.1523/JNEUROSCI.2373-05.2005
Kamita, M. K., Silva, L., Magliaro, F., Kawai, R., Fernandes, F., & Matas, C. G. (2020). Brainstem auditory evoked potentials in children with autism spectrum disorder. Jornal de pediatria, 96(3), 386–392. https://doi.org/10.1016/j.jped.2018.12.010
Kouni, S. N., Giannopoulos, S., Ziavra, N., & Koutsojannis, C. (2013). Brainstem auditory evoked potentials with the use of acoustic clicks and complex verbal sounds in young adults with learning disabilities. American journal of otolaryngology, 34(6), 646–651. https://doi.org/10.1016/j.amjoto.2013.07.004
Sanfins, M. D., Borges, L. R., Ubiali, T., & Colella-Santos, M. F. (2017). Speech auditory brainstem response (speech ABR) in the differential diagnosis of scholastic difficulties. Brazilian journal of otorhinolaryngology, 83(1), 112–116. https://doi.org/10.1016/j.bjorl.2015.05.014
Song, J. H., Banai, K., Russo, N. M., & Kraus, N. (2006). On the relationship between speech- and nonspeech-evoked auditory brainstem responses. Audiology & neuro-otology, 11(4), 233–241. https://doi.org/10.1159/000093058
Song, J. H., Banai, K., & Kraus, N. (2008). Brainstem timing deficits in children with learning impairment may result from corticofugal origins. Audiology & neuro-otology, 13(5), 335–344. https://doi.org/10.1159/000132689
Tait, C. A., Roush, J., & Johns, J. (1983). Normal ABR's in children classified as learning disabled.
The Journal of auditory research,
23(1), 56–62
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