O objetivo deste estudo foi investigar a relação entre dislexia e o processamento auditivo central. Com base em evidências anteriores, os autores sugerem que a dislexia pode ser causada principalmente por um défice no processamento fonológico, incluindo aspectos como a identificação e discriminação de fonemas ou a memória verbal de curto prazo. Em particular, os autores investigaram se o défice na perceção da fala ocorre ao nível da perceção sensorial, caracterizado por um processamento pré-atencional e automático.
Foram examinados 19 crianças com dificuldades de soletração e 15 crianças do grupo controlo, todas do 5.º e 6.º anos do ensino primário, utilizando um paradigma oddball passivo (os estímulos auditivos não são conscientemente atendidos; neste caso, foram apresentados enquanto os participantes assistiam a filmes mudos). O paradigma oddball consiste na apresentação de sequências de estímulos sonoros repetitivos ou padrões, de alta probabilidade, onde, de forma aleatória e infrequente, são intercalados estímulos ligeiramente diferentes, chamados estímulos oddball, infrequentes ou desviantes. Tipicamente, esses estímulos infrequentes produzem uma resposta evocada denominada potencial de disparidade (Mismatch Negativity; MMN), que reflete uma resposta pré-atencional e automática do processamento auditivo central às mudanças na frequência, duração ou tom dos estímulos.
O potencial de disparidade foi medido para dois tipos de estímulos: tons e fala. Embora não tenham sido encontradas diferenças entre os grupos para os tons, foi observada uma diminuição significativa no potencial MMN no grupo de crianças com dislexia nos estímulos de fala. Esse resultado levou os investigadores à conclusão de que as pessoas com dislexia apresentam um défice específico no processamento da fala ao nível sensorial, o que pode ser utilizado para identificar precocemente crianças em risco de desenvolver dislexia.
Referência:
Schulte-Körne, G., Deimel, W., Bartling, J., & Remschmidt, H. (1998). Auditory processing and dyslexia: evidence for a specific speech processing deficit. Neuroreport, 9(2), 337–340. https://doi.org/10.1097/00001756-199801260-00029
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